02/12/2010

O Rio de Janeiro continuará lindo!

No período de 2004 a 2009 vivi literalmente no Rio de Janeiro. No início houve uma resistência, pois mudar para aquela cidade para a minha família ainda era o último desejo. Tudo devido à insegurança para ser mais claro, devido a falta de segurança!

Enfim, fomos e sobrevivemos. Hoje tenho pela cidade, ou melhor, pelo estado do Rio de Janeiro um carinho muito grande. Aprendi a gostar do povo, da cultura, dos lugares, do jeito despojado enfim, o Rio de Janeiro é realmente um lugar para se viver com prazer, e isso falta em alguns lugares do Brasil.

Há semanas estamos convivendo com as notícias sobre o desarmamento do tráfico e a retomada dos morros por parte da polícia, da lei. Trata-se de uma ação aguardada desde a época em que Leonel Brizola impediu a subida da polícia aos morros. Enfim o necessário aconteceu...

Se há algo por trás dessa ocupação, se a ação é limpa ou se trata apenas de uma combinação entre a polícia e os bandidos, não me importa. Festejamos o que aconteceu – a união das polícias com as forças armadas a favor do povo, da nação. E viva o Rio!

Quero dividir com vocês que me acompanham através do blog o depoimento de alguns amigos do Rio de Janeiro. São depoimentos sinceros e importantes que retratam a realidade de quem está vivendo bem de perto todas as cenas que de longe, acompanhamos pela televisão. Eles foram transcritos na integra.

Este é o compromisso deste canal de comunicação. Trazer para você amigo leitor temas, notícias, cases e porque não, formar uma rede de opiniões e debates que possam não só informar, mas como também criar relacionamentos sólidos a favor da transparência, do amor e paz!

Espero realmente que você possa desfrutar dessa realidade. Boa leitura!



De: Tiago Santana Local: Jacarezinho – Rio de Janeiro

A paz!!! Fala grosso! Boa noite!
Puxa, foi uma semana complicada, onde às pessoas andavam nas ruas com ar de pavor e medo, comércios fechados, a todo instante notícias de novos ataques, na quarta-feira estava indo para casa na comunidade do Jacarezinho, passei por uma das principais avenidas da zona norte (Av Dom Helder Câmara) que da acesso a uma das entradas do Jacarezinho e Manguinhos, no caminho passei por mais de 30 policiais entre civis e militares, em seguida passei por um carro em chamas, acredito que era um xsara picasso, quando entrei no Jacarezinho, passei por mais de 20 homens armados, entre esses homens tinham muitos jovens entre 16 e 25 anos, preparando-se para um possível confronto com a polícia, é uma situação de extrema tensão, vc acaba ficando no meio desse conflito, no dia seguinte tive que andar do bairro de Benfica que fica há 2 km do Jacarezinho, pois as ruas de acesso a comunidade estavam bloqueadas pela polícia, continuando a minha caminhada, passei por um trecho onde o chão estava com marcas de um outro automóvel que acabará de ser queimado, no entanto já haviam retirado sua carroceria, infelizmente continua jovens se drogando e morrendo seja pela droga ou por tiros, porém o irmão de um conhecido que mora na Vila do Cruzeiro (primeira a ser ocupada pelas forças de segurança) transmitia uma certa dose de esperança por dias melhores. Não podemos deixar de sonhar e acreditar que de Deus irá libertar o RJ dessa situação.




De: Alexandre Piau Local: Flamengo - RJ / São Paulo

O MORRO FOI FEITO DE SAMBA. SERÁ AINDA?
Morei no Rio durante boa parte da minha vida e os morros sempre geraram uma imagem poética em meus sentimentos, sambistas como Cartola, Nelson Sargento, Carlos Cachaça, o pessoal da velha guarda da Mangueira e da Portela, o povo simples e feliz, com aquela vista divina da cidade maravilhosa, um jeito especial de levar a vida, sem as vicissitudes e imposições do dia a dia, sem necessidades de ter mais que duas roupas, um sapato ou um tênis, e a alegria espontânea, nascida da ausência total de desejos materiais.

Fui nascido e criado na favela Tavares Bastos, no Catete, até os meus quatorze anos vivi lá. Um barraco humilde onde morávamos eu e meus avós, o banheiro era do lado de fora da casa, uma latrina simples, andava quase o tempo todo com os pés descalços, com o mesmo short, a camisa era repetida inúmeras vezes e, quem ligava pra isso? Tínhamos uma comidinha simples, mas que não faltava, não tínhamos televisão, mas existia um fogão, uma geladeira usada e duas camas. Pra que mais? Era festa quase o tempo todo, os vizinhos eram como amigos, dividindo raticamente tudo, choros, sorrisos, ovos, açúcar, sal e leite.

Essa era a imagem de favela que eu tinha, na qual fui criado.

Muito tempo após já ter saído da favela, o Brizola foi eleito governador do Estado, isso em 1982. Com seu jeito populista e, preocupado com o vício de sua filha, Neusinha, que subia o morro todo dia em busca de droga, Brizola proibiu a polícia de subir nos morros e, permitiu que os bandidos tivessem um local seguro pra roubar e intensificar o tráfico de drogas.
A partir de Brizola a imagem dos morros mudou.
Seus discípulos, Marcello Alencar, César Maia e Garotinho, seguiram o mesmo mantra, e pior, estabeleceram parcerias nefastas com os traficantes. A polícia passou a subir o morro pra cobrar uma taxa dos marginais, o famoso “arrego”.

A situação do Rio passou, paulatinamente, a tornar-se insustentável, com um total de 1.200 favelas, fruto de uma total falta de planejamento habitacional, cada favela passou a ser administrada por facções criminosas como “Comando Vermelho”, “Terceiro Comando”, e etc..

O carioca passou a viver com medo de sair nas ruas, de ir a um bar, um restaurante, um cinema. Para a realização de grandes eventos a polícia, a prefeitura, o governo, tinham que fazer uma parceria com o tráfico (vide a Eco-92, vide os jogos Panamericanos em 2007 e etc.).

O advento das UPPs foi interessante, mostrou uma reação por parte do Governo, tendo em vista a população estar de mãos atadas. A intensificação das ações, bem como a propaganda do BOPE, ajudou na tentativa de dizer aos bandidos, “Ei, existe alguém que combate vocês, não está tudo largado”.
Os Governos Garotinho e Rosinha foram perdidos. Esperava-se, pelo fato de serem dois expoentes da vida cristã, que houvesse uma atitude forte e radical contra os bandidos, contudo, não foi isso o que ocorreu na prática. Infelizmente, Garotinho e sua esposa fizeram uma sólida aliança com os marginais, a ponto de receber altas doses de propinas dos mesmos. O Rio ficou mais entregue do que nunca.

Agora, em novembro de 2010, vimos as imagens, repetidas à exaustão, do Complexo do Alemão, um poderoso componente do esquema do tráfico na cidade, caindo. Ainda restam mais de 1.000 favelas. Os próximos passos, dizem, é invadir e tomar o Vidigal e a Rocinha, outros dois importantes atores no cenário da violência e do comércio das drogas.

Não sei se estou ficando velho e, por isso, cético em demasia mas, não compartilho do clima de oba-oba, de vitória, de paz na cidade. Enquanto não forem presos vereadores, deputados estaduais e federais que possuem ligações com o esquema do tráfico (o que é sabido de todos), e enquanto o próprio Governador não for inquerido sobre como conseguiu em quatros anos uma elevação significativa de seu patrimônio, não justificada com seu salário, não irei comemorar. O que nos diz que isso tudo não é jogo de cena? Enfim, acho de qualquer forma que foi dado um passo importante, como não via à quase 30 anos. O BOPE, auxiliado pela Marinha, mostrou que a cidade não é toda dos bandidos, existe confronto, existe luta.

Agora nos resta acompanhar os próximos capítulos, na expectativa de que a cidade seja limpa de vez, e não apenas, que a sujeira tenha sido empurrada pra debaixo do tapete.


De: Sidnei Leitão Local: Rio de Janeiro

Gedson,

Estamos passando por momento necessário no Rio de Janeiro para um futuro melhor para nossos filhos e o bem estar de todos. Só lamento que esta ação das autoridades não tenham ocorrido há alguns anos atrás, pois acredito que muitos inocentes não estariam mortos.

Nenhum comentário: